SISTEMA ccpr VAI A BRASÍLIA CONTRA IMPORTAÇÕES DE LÁCTEOS
Lideranças e produtores cooperados se reuniram com deputados, quando cobraram a redução das cotas de importação de derivados lácteos e mudanças imediatas na legislação
Crédito: João Paulo Mello
Publicado em 17 de agosto de 2023
Com o recorde de importações
de produtos lácteos registrado neste ano, que tem impactado negativamente a
cadeia produtiva nacional, a CCPR foi à Brasília para tentar frear a
entrada de leite estrangeiro no país. Uma comitiva formada por lideranças
do setor e produtores se deslocou até a Câmara dos
Deputados, no dia 16 de agosto, com o objetivo de articular mudanças
imediatas na legislação e tentar evitar o risco de desabastecimento de
leite no mercado. O encontro foi uma iniciativa da Frente Parlamentar de Apoio ao
Produtor de Leite e contou com o apoio da Abraleite, CNA, OCB e OCEMG.
As importações dos principais
derivados, como leite em pó, creme de leite e manteiga triplicaram em
junho e bateu a casa dos 9,5% da produção nacional, alcançando o equivalente
a 205,5 milhões de litros de leite. Para se ter dimensão do impacto que isso
traz para a cadeia produtiva, esse volume é duas vezes e meia a captação
mensal da CCPR, que é hoje a maior cooperativa captadora de leite do Brasil. Apenas em
Minas Gerais, principal bacia leiteira do país, a participação das cooperativas
na produção de leite chega a 22,4% da produção do estado e, desse percentual,
mais da metade passa pelo Sistema CCPR.
Devido à alta disponibilidade
de lácteos no mercado, os preços estão em queda, tornando a atividade
leiteira desafiadora para os produtores nacionais. "Os pequenos e médios
produtores sofrem muito nessa situação, porque o preço pago atualmente não traz
viabilidade econômica à atividade, causando um desânimo a eles. Muitos estão
desistindo da atividade, o que pode causar grandes transtornos, como o
desabastecimento da população", destaca o presidente da CCPR Marcelo
Candiotto.
Em 2022, a produção nacional
recuou 4,8% em relação a 2021 e, no primeiro trimestre de 2023, não houve recuperação
se comparado ao ano anterior. Ao contrário, no primeiro trimestre de 2023, a
produção sofreu retração de 1,5%, quando comparada ao mesmo período de 2022. E
as perspectivas não são positivas, mesmo no atual período da safra, que deveria
ser um momento de alta de preços e margens maiores para os produtores.
Impacto econômico e social
De acordo com especialistas, a
pecuária de leite brasileira ainda não conseguiu se recuperar do forte
aumento do custo de produção registrado a partir de 2020, e enfrenta uma
série de dificuldades. E a preocupação se dá especialmente ao relevante papel
socioeconômico desse segmento, seja pela forte capacidade de geração de
renda e empregos ou para o fortalecimento da segurança alimentar
nacional e enfrentamento da fome. O Censo Agropecuário mais recente apontou
1,171 milhão de propriedades produtoras de leite atuando em 99% dos municípios
brasileiros. Destes, 81% (cerca de 955 mil produtores) são da agricultura
familiar.
Uma reunião foi realizada, no
dia 4 de agosto, com a secretária de Comércio Exterior Tatiana Prazeres e
contou com a participação de autoridades e lideranças do agro. Na ocasião,
foram apresentados esses dados, assim como uma análise de desempenho do setor e
os pontos críticos que impactam a cadeia leiteira.
Também foi enviado um ofício
ao vice-presidente Geraldo Alckmin, no dia 19 de julho, exigindo
medidas imediatas em defesa da pecuária leiteira nacional.
Entre as soluções
apresentadas estão a criação de um comércio internacional leal de lácteos,
o estabelecimento de critérios e requisitos para o processo de análise
das licenças de importações de produtos lácteos e o maior rigor nas análises
de qualidade dos produtos importados. Isso se faz necessário para verificar
se os lotes se enquadram nos requisitos físico-químicos e microbiológicos do
Mercosul, já que os produtos importados têm regras diferentes de produção,
requisitos sanitários referentes à validade, à rotulagem e exigências
referentes à presença de alergênicos e lactose, por exemplo.
Há também preocupações em
relação à prática de reidratação de leite em pó importado, o que é proibido
pela legislação.